sábado, 18 de outubro de 2008

INTRODUÇÃO
& EXPOSIÇÃO DO TRILEMA

(18.10.2008)

[§0] A nossa investigação centrar-se-á no chamado Trilema de Agripa, também conhecido como Trilema de Münchhausen. O trilema conclui positivamente pela impossibilidade do conhecimento humano. O nosso objectivo será perceber em que medida essa proposição é, ou não, correctamente justificada pelo trilema. Este poder-se-ia resumir no seguinte esquema:

[§1] Assumindo que S (sujeito) considera P1 (uma proposição)
(a) verdadeira e
(b) justificada
(reunindo-se assim as três condições clássicas para que uma qualquer proposição seja catalogada como um item de conhecimento [1] - cf. Pl. Smp. 202a.5), então, uma de três coisas acontece:

[§2] (1) para que P1 seja (b), S tem de apresentar P2, isto é, nova proposição que justifique a anterior. A P2 passa então automaticamente a aplicar-se quanto se disse em §1 para P1. P2, portanto, para ser (b), força S a apresentar P3, e assim sucessivamente, ad aeternum, no que os filósofos designam de regressão infinita.

[§3] (2) algures, na sequência infinita de justificações acima descrita, chamemos-lhe {s1}, para justificar P1+x (isto é, uma qualquer proposição de {s1} que não a proposição primeira, P1), S apresenta a proposição P1+(<x) em que x={N}. Traduzindo a matemática macarrónica, estamos perante um argumento circular, em que S, a dada altura de {s1}, acaba por recorrer a uma proposição que já ocorrera anteriormente em {s1}. Um exemplo ilustrado disto será apresentado mais tarde.

[§4] (3) {s1} é suspensa arbitrariamente, numa qualquer proposição.

[§5] (1) é impossível de realizar, visto pretender-se infinito; (2) e (3) são normalmente descartados em Filosofia sob a justificação de que são incapazes de tornar Pn (isto é, uma qualquer proposição) em Pn (b), ou seja, uma proposição justificada. As objecções que se podem levantar a isto ("um argumento circular é necessariamente um mau argumento?", por exemplo) serão listadas, em princípio, no próximo post, e analisadas depois mais tarde, a seu tempo. Por ora, nesta fase do nosso enquiry, de acordo com o Trilema e o senso comum, quer popular, quer filosófico, parece claro que qualquer fundamentação do saber humano é, a priori, uma empresa condenada.
*
[1] O verbo empregue na formulação da premissa, «considerar», é por nós entendido como pressupondo uma crença activa por parte de S em P1. Assim, o elemento crença, o terceiro da definição clássica de conhecimento (true justified belief), encontra-se aí implícito.

1 comentário:

Miguel Monteiro disse...

bamos lá a ber em qué quisto dá.